CARRAPATOS DUROS - TIPOS
Carrapato do Cão Carrapato vermelho do cão- Rhipicephalus sanguineus (Latreille, 1806)
Espécie de grande importância veterinária. Esse é um carrapato típico de três hospedeiros (larvas, ninfas e adultos vivendo em hospedeiros separados), comumente encontrado parasitando o cão e outros mamíferos e aves. Não foram encontradas evidências. de que esta espécie possa parasitar o homem, limitando-se, o seu parasitismo, aos cães e aos gatos. Os adultos, preferem instalar-se na pele, entre o coxim plantar e as orelhas do cão. Seu ataque, causa grande irritação e desconforto nos animais, com perdas de sangue. Os adultos, têm uma forte tendência para escalar muros e cercas, freqüentemente abrigando-se em frestas e forro dos canis, em grande número, debaixo de móveis e outro locais. Eles desprendem-se dos cães, em qualquer fase de desenvolvimento, espalhando-se pelas habitações, encontrados às vezes em grandes números, sendo de difícil controle. É o vetor da babesiose (Babesia canis) e erlichiose (Erlichia canis) canina.
Carrapato do Cavalo Carrapato Estrela - Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787)
O hospedeiro preferido da fase adulta é o cavalo e o boi, podendo parasitar também outros animais domésticos e silvestres. Esta espécie comumente ataca o homem em enormes quantidades nas estações secas e frias, em qualquer fase de sua evolução. No Brasil as formas adultas recebem ainda as denominações de rodoleiro em muitas regiões do país, picaço, no sul de Minas Gerais e carrapato rodolego, em Sergipe. As larvas ou as ninfas desses carrapatos são denominadas popularmente de micuim, carrapato pólvora, carrapato-fogo, carrapato meio-chumbo e carrapatinho. Sobem em grande número nas gramíneas, em certas épocas do ano, atacando o homem, produzindo intenso prurido e uma lesão granulomatosa, especialmente ao redor da cintura e pernas, que pode levar vários meses para cicatrizar.
É o vetor da Babesiose eqüina no Brasil e da Febre Maculosa no homem, na América Central, Colômbia e Brasil, causada pelo Rickettsia rickettsi, uma zoonose que circula entre carrapatos e hospedeiros vertebrados.
O carrapato Amblyomma cajennense necessita de três hospedeiros de espécies iguais ou diferentes para completar seu ciclo de vida, que pode variar de um a três anos, dependendo das condições climáticas.
No Brasil, as infestações por larvas ou mucuins são observadas particularmente a partir dos meses de março-abril até meados de julho quando se inicia o período ninfal. As larvas podem permanecer no ambiente até 6 meses sem se alimentar.
Após a fixação das larvas no hospedeiro, estas iniciam o repasto (linfa e/ou sangue e tecidos digeridos) durando esta fase de parasitismo aproximadamente cinco dias. Após este período, as larvas desprendem-se do hospedeiro, caem no chão e buscam abrigo no solo, para realizar uma muda para o estágio ninfal, que ocorre em um período médio de 25 dias.
A ninfa (vermelhinho) pode aguardar em jejum pelo hospedeiro por um período estimado de até um ano. Seu período máximo de atividade é observado durante os meses de julho a outubro podendo também ocorrer durante o ano todo dependendo das condições ambientais do local onde está ocorrendo. Encontrando o segundo hospedeiro, a ninfa se fixa e inicia um período de alimentação de aproximadamente 5 a 7 dias quando, completamente ingurgitada, se solta do hospedeiro, cai no chão e realiza a segunda muda. Após um período de aproximadamente 25 dias emergem um macho ou uma fêmea jovem que, em 7 dias, encontra-se apta a realizar seu terceiro estádio parasitário. Neste ambiente, pode permanecer sem se alimentar, por um período de até 24 meses, aguardando o hospedeiro. Quando isto acontece, machos e fêmeas fixam-se, fazem um repasto tissular e sanguíneo, acasalam-se e a fêmea fertilizada inicia um processo de ingurgitamento que finda num prazo aproximado de 10 dias. Após este período, a fêmea se solta da pele e cai no solo onde inicia uma nova geração. Esta fase, observada durante os meses de outubro a março no sudeste brasileiro, completa o ciclo biológico da espécie e indica a ocorrência de uma geração anual da espécie.
Carrapato da Orelha dos Eqüinos - Anocentor nitens (Neumann, 1897)
Carrapato de um-hospedeiro, primariamente parasita de cavalos, asnos e mulas, também registrado em bovinos, ovelhas, cabras, onça pintada, cervídeos e cão. O local preferido de infestação, é a orelha e divertículo nasal, podendo, em fortes infestações, ser encontrado em qualquer parte do corpo. Infestações na orelha com supurações, predispõe o animal ao parasitismo por miíases. A.nitens é um dos principais vetores da Babesia caballi e agentes da babesiose eqüina.
Carrapato de Bovino Carrapato sul-americano do boi - Boophilus microplus (Canestrini, 1887)
Espécie muito abundante, parasitando predominantemente os bovinos, podendo infestar também búfalos, cervos, camelos, cavalos, ovelhas, burros, cabras, gatos, veados campeiros, capivaras, coelhos, preguiças, cães e porcos.
Apesar de ser encontrado com freqüência e em altas infestações em determinados locais, excepcionalmente ataca o homem.
O carrapato do bovino é um ectoparasita de enorme importância na pecuária nacional, em virtude das perdas econômicas que causa aos produtores. É o transmissor da Tristeza Parasitária Bovina (TPB) causada pelos protozoários Babesia bigemina e B. bovis (babesiose) e Anaplasma marginale (anaplasmose). Infestações pesadas, podem acarretar a morte de bezerros e mesmo de animais adultos.
CARRAPATOS DUROS - BIOLOGIA E COMPORTAMENTO
Família Ixodidae
A maioria das espécies deste grupo de carrapatos é silvestre e habita florestas e pastagens, parasitando várias espécies de animais hospedeiros. Poucas espécies são encontradas em ambientes restritos, como ninhos e tocas de seus hospedeiros.
O desenvolvimento se completa em duas fases: uma parasitária que ocorre sobre o hospedeiro e outra de vida livre, no solo, após abandonar seu hospedeiro. A fase parasitária compreende menos de 10% da vida do carrapato e é adaptada para alimentação sangüínea no hospedeiro. São necessários um ou mais hospedeiros para completar seu ciclo de vida que consiste em três fases: larva, ninfa e adulto (estágios móveis e hematófagos).
Após o acasalamento, as fêmeas ingurgitam, desprendem-se do hospedeiro, e procuram locais abrigados no solo dando início à fase de vida livre do ciclo biológico. O tempo de duração deste período, dentro de cada espécie, depende da temperatura, podendo se alongar quando essas tornam-se baixas. A quantidade de ovos postos por fêmea, dentro de cada grupo de carrapato, está relacionada com o seu respectivo peso.
As larvas ao saírem do ovo já possuem um aspecto semelhante ao do carrapato adulto. Apresentam três pares de pernas e são sexualmente imaturas. As larvas permanecem inativas na vegetação do solo por vários dias enquanto sua cutícula endurece e então quando estão aptas a infestar os animais, iniciam o processo de subida e descida em direção ao ápice das plantas ao redor do local onde nasceram. As larvas podem detectar odor, calor, CO2 e vibração do ar devido ao movimento dos animais hospedeiros. Na vegetação, ficam agrupadas evitando, desse modo, a perda de umidade e protegendo-se da incidência direta dos raios solares, aguardando a passagem dos hospedeiros, geralmente pequenos mamíferos e aves que habitam no solo. Após uma muda, dão origem as ninfas as quais apresentam quatro pares de pernas. Estas também são imaturas sexualmente. Após a última muda, originam-se os adultos, machos ou fêmeas. As fêmeas só se engurgitam completamente após o acasalamento. Os machos permanecem no hospedeiro por várias semanas ou meses, algumas vezes acasalando-se com várias fêmeas. Exceto para Ixodes, a cópula dos ixodídeos ocorre sempre no hospedeiro.
O encontro dos ixodideos com os hospedeiros no campo é feita ao acaso. Ao contrário dos insetos, os carrapatos dispersam-se muito pouco percorrendo distâncias muito curtas. Apesar de poderem detectar a proximidade do hospedeiro na vegetação, é necessário que haja contato físico com o mesmo para que eles sejam transferidos e iniciem a fase parasitária. Muitos morrem antes mesmo de encontrar seus hospedeiros, estando sujeitos a predação e a condições climáticas adversas. Para compensar a restrição imposta à fase de vida livre do seu ciclo biológico, as fêmeas depositam no ambiente milhares de ovos, dos quais, em geral, eclodem a grande maioria das larvas. As larvas, por sua vez, também são muito resistentes e são capazes de passar longos períodos em jejum, até encontrar condições favoráveis ao parasitismo.
O desenvolvimento destes carrapatos pode ocorrer em um, dois ou três hospedeiros dependendo do número de animais parasitados durante seu ciclo evolutivo.
No primeiro caso, larvas, ninfas e adultos passam toda a vida parasitária sobre um só animal; no segundo caso, larvas e ninfas alimentam-se em um animal, as ninfas caem no solo, sofrem uma muda e os adultos buscam um novo hospedeiro; no terceiro caso, a cada mudança de estádio, o carrapato abandona o hospedeiro, realiza a muda no ambiente, e volta a se fixar no hospedeiro.
A semelhança das larvas, nos carrapatos onde o ciclo se desenvolve em mais de um hospedeiro, as fases presentes no meio ambiente também são muito resistentes e capazes de suportar grandes períodos de inanição.
O tempo necessário para que o carrapato complete o seu ciclo biológico depende do tipo de ciclo e das condições climáticas, podendo variar de alguns meses, em países tropicais, até anos, em países de clima frio.
Ciclo de um hospedeiro (carrapatos monoxenos)
Representado pelo carrapato dos bovinos – Boophilus microplus e pelo carrapato tropical do cavalo, Anocentor nitens. Todos os estágios parasitam grandes animais tais como bovinos, veados e cavalos. O encontro do hospedeiro se dá ao acaso e todo o desenvolvimento da fase parasitária do carrapato ocorre no mesmo indivíduo.
As fêmeas, após serem fecundadas, ingurgitam e caem no solo ,onde depositam ovos. Os machos permanecem no corpo do hospedeiro, por um período maior de tempo, onde acasalam-se com outras fêmeas. Nos climas tropicais úmidos o ciclo se completa sem interrupção porém mostrando uma sazonalidade distinta dos estádios.
O Boophilus microplus, com seu ciclo biológico curto, completa duas a três gerações por ano em regiões onde a temperatura é mais amena (sul do país) e ao redor de cinco em locais mais quentes (sudeste).
Ciclo de dois hospedeiros
Este ciclo ocorre em algumas espécies de Hyalomma e Rhipicephalus encontradas em estepes ou savanas onde ocorre uma longa estação seca e pouca chuva. A larva alimentada não cai no solo, ficando presa no hospedeiro.
Após a muda, as ninfas escapam da exuvia larval e movem-se a uma curta distância antes de fixar-se ao mesmo animal. As ninfas engurgitadas caem no solo, realizam a muda para o estágio adulto, e procura um segundo hospedeiro, geralmente maior, para alimentar-se. As fêmeas alimentadas caem no solo e ovipositam antes de morrer.
Ciclo de três hospedeiros (carrapatos trioxenos)
É o tipo que o corre com mais freqüência entre os ixodideos. Cerca de 600 a 650 espécies deste grupo apresentam este tipo de ciclo biológico. Para completar o seu desenvolvimento, são necessários três diferentes hospedeiros, da mesma espécie ou não, ou o mesmo indivíduo três vezes, se ele permanece nas proximidades da larva, ninfa ou adulto. Os ciclos biológicos são longos podendo variar de 1 a 3 anos.
CARRAPATOS MOLES - TIPOS
Carrapato de Galinha - Argas miniatus Koch (1844)
É a espécie brasileira de carrapato de aves. Além de parasitando galinhas, sendo também encontrada em pombos, patos e pássaros silvestres. O Argas tem hábitos noturnos. Vive nas frestas e buracos dos galinheiros e nos troncos de árvores, saindo à noite para sugar os hospedeiros, voltando aos esconderijos assim que ingurgitados. A cópula ocorre fora do hospedeiro, e a fêmea pode realizar várias posturas sem nova cópula, mas antes, cada postura é precedida de nova sucção. Este carrapato é o vetor da Borrelia anserina e Aegyptanella pullorum entre as aves. Infestações pesadas podem matar as aves por exanguinação. Podem atacar o homem e sua picada causa intensa dor.
CARRAPATOS MOLES - BIOLOGIA E COMPORTAMENTO
Família Argasidae
Este gênero é mais abundante nas regiões áridas que apresentam longas estações secas. A maioria das espécies está associada às aves. Em geral, os habitats dos argasídeos estão intimamente associados àqueles relacionados ao homem e animais domésticos: pocilgas, galinheiros, pombais, ou cabanas rústicas, Os argasídeos que vivem em um habitat relativamente estável, podem alimentar-se no mesmo animal várias vezes ou em vários animais (da mesma espécie ou não) durante seu ciclo de vida e se reproduzem continuamente ao longo do ano.
Os adultos acasalam-se fora do hospedeiro e a fêmea realiza postura após cada repasto sanguíneo.
O ciclo de vida compreende ovo, larva, ninfas (vários estágios) e adultos. A maioria das espécies, ninfas e adultos alimenta-se muito rapidamente (cerca de 30 a 40 minutos), enquanto as larvas fixam-se em seus hospedeiros por aproximadamente 7 a 10 dias. Antes de cada muda ocorre um repasto sangüíneo, salvo raras exceções em que pode ocorrer duas refeições em ninfas antes da ecdise.
CARRAPATOS - IMPORTÂNCIA MÉDICO-VETERINÁRIA
Os carrapatos, são primariamente ectoparasitas de animais silvestres e a maioria dos vertebrados terrestres estão sujeitos ao seu ataque. Das espécies descritas de carrapatos apenas 10%, são consideradas de importância médica e veterinária e estão envolvidas na epidemiologia de doenças entre humanos e animais. Os danos causados aos animais são determinados pela perda de sangue e transmissão de doenças; para o homem, os carrapatos são importantes pelo incômodo, dermatites e lesões decorrentes das picadas, mas principalmente por serem vetores de patógenos.
Na natureza, os patógenos são mantidos em animais silvestres e por seus ectoparasitas. Nestes locais, o patógeno, o hospedeiro vertebrado e o carrapato vetor, podem ter alcançado um relação equilibrada, na qual o homem não toma parte. Mudanças ecológicas, como derrubada de matas, loteamentos em locais florestados, cultivos, etc, com a intrusão do homem nessas áreas, propiciam o contato do carrapato com seus hospedeiros de eleição assim como com outros em potencial.
Outro fator que vem afetando a epidemiologia das doenças veiculadas por carrapatos, tem sido as mudanças ocorridas no comportamento humano. Atividades de laser na natureza tais como acampamentos, caminhadas nas florestas, têm conduzido populações, a um contato maior com focos de infecção.
CARRAPATOS - DOENÇAS
Doenças Causadas:
Inflamação, prurido, edema e ulceração no local da picada;
Condição séria com desenvolvimento de anemia nos animais fortemente infestados;
Infestação do canal auditivo pelos carrapatos, com possíveis infecções secundárias;
Causadas pela inoculação de saliva tóxica nos vertebrados;
Transmitidas por carrapatos, incluindo babesioses, riquetsioses, borrelioses, bacterioses, viroses, etc.
Doenças Transmitidas ao Homem:
Também conhecida como Febre das Montanhas Rochosas, Febre do carrapato. É causada pela Rickettsia rickettsii e pode ser encontrada nas três Américas, do Canadá até a América do Sul. O reservatório primário de R. rickettsii são pequenos roedores silvestres sendo o homem um hospedeiro acidental.
O papel dos carrapatos na infecção é importantíssimo pois eles atuam na natureza como vetores biológicos e principalmente como reservatórios, uma vez que a transmissão do patógeno pode ser perpetuada através de sua progênie (transmissão transovariana) A porcentagem de carrapatos infectados na natureza é baixa. O homem contrai a infecção ao penetrar em áreas infestadas por carrapatos, ou por meio de cães, que os levam para os domicílios em áreas urbanas. Nos Estados Unidos a doença é veiculada por ixodídeos do gênero Dermacentor. Na região neotropical, o principal vetor é o Amblyomma cajenense. No Brasil, essa enfermidade, conhecida como febre maculosa, foi registrada em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A doença pode ser aguda, com o desenvolvimento de exantema e febre ou com sintomas brandos podendo ser confundida com um estado gripal (febre e dor de cabeça) O diagnóstico é feito pela anamnese, história de picada de carrapatos e testes sorológicos.
Causada pela Borrelia burgdorferi latu sensu, é a mais importante doença transmitida por carrapatos nos Estados Unidos, sendo os principais vetores os carrapatos do gênero Ixodes. Também ocorre em cães, gatos, equídeos, bovinos e em grande número de espécies de animais silvestres e aves. No Brasil já existe constatação de caso de Doença de Lyme like. Embora o isolamento do agente etiológico não tenha sido possível, casos clínicos com confirmação sorológica já foram identificados no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Manaus.
É uma doença de evolução complexa, podendo envolver alterações dermatológicas, neurológicas, cardíacas e articulares. Os sintomas podem ser divididos em três estágios:
Fonte: Pragas Online